terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lembrando o Pasquim

Há algum tempo tive o prazer de assistir a um programa da TV Câmara, muito bem produzido, contando a história do Pasquim, um inesquecível e mais do que irreverente jornal, corajosamente publicado nos duros tempos da ditadura, por uma equipe da qual faziam parte Jaguar, Ziraldo, Millôr Fernandes, Sérgio Cabral, Miguel Paiva, Henfil e outros nomes peso-pesados da época.
O pessoal do Pasquim foi extremamente corajoso, pois desafiava a intolerância dos militares e as tesouras dos geralmente obtusos censores, com um humor aguçado e muito debochado. Houve um período em que grande parte da equipe foi presa, mas mesmo assim o Pasquim continuou a ser editado com a ajuda de colaboradores.
O Pasquim só acabou quando a extrema direita destruiu algumas bancas de jornal com bombas detonadas pelas madrugadas. Os jornaleiros ficaram com medo e cessaram a distribuição.
O programa da TV Câmara trouxe algumas entrevistas e dentre elas a do publicitário Washington Olivetto, que expôs uma interessante análise sobre as mudanças que o Pasquim teria provocado na linguagem da propaganda. Segundo Olivetto, os comerciais do “garoto Bom Bril” por ele criados naquela época, foram os primeiros a trazer um “estilo coloquial” para a propaganda brasileira, conseqüência dos textos descontraídos e inovadores do Pasquim.
Nos anos 1970, minha agência de propaganda atendia a empresa Sifco, forjaria que chegou a se situar no ranking das 100 maiores empresas brasileiras.
Com textos criados pelo premiado publicitário Sergio Graciotti, preparamos uma série de anúncios sobre os novos equipamentos que a empresa importara.
Um dos anúncios trazia o título “A Sifco vai levar uma prensa”.
O Pasquim não perdoou: reproduziu o anúncio e sob a imagem inseriu a seguinte legenda, curta e grossa: “Quer dizer que a Sifco sifu?”
A publicação gerou enorme alvoroço na diretoria da empresa, pois como é que explicariam tal deboche para os militares, aos quais estava atrelada por contratos de fornecimento? A histeria obviamente também respingou na nossa agência, mas felizmente o tempo se encarregou de enterrar o assunto.
Hoje resta a lembrança da irreverência da turma do Pasquim, que proporcionou à geração daquela época leituras pra lá de divertidas e uma excitante sensação de cumplicidade contra a tão odiosa ditadura militar.

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