terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Um comercial muito especial para mim


Eis um comercial que possui um significado especial para mim. Foi produzido em 1957 pela Dória Associados Propaganda, cujo escritório estava localizado no último andar do Edifício CBI na Rua Formosa, em São Paulo. 


O criador e Diretor de Arte deste desenho animado foi o italiano radicado no Brasil, Mário Lantana. Uma das características de Mário era desenhar as figuras com apenas quatro dedos em cada mão. E eu, ainda bem jovem, fiz parte da equipe de artefinalistas dessa produção. 

O ponto de partida era a trilha sonora: cada figura do fotograma precisava ser desenhada de acordo com o texto ou a canção, coordenando os movimentos labiais e corporais. 

Naquela época pré-computador, cada fotograma era previamente desenhado em papel transparente, que possuia dois furos-guias, para ser encaixado em uma prancheta. A prancheta era a base para todo o processamento posterior. Em seguida, os artefinalistas (como eu) copiávamos os desenhos-traço sobre um acetato, à nankin. Desenho feito, o acetato era invertido e nas suas costas eram pintadas as cores das roupas, mãos, corpo, produto, etc., à guache. Esse processo parecia uma linha de produção: os acetatos iam passando de mão em mão pela equipe de artefinalistas, um pintava a blusa com determinado tom de cinza, outro pintava a saia com outro tom mais escuro, outro o terno, e assim por diante. 

Este desenho animado do Leitesol foi produzido em preto-branco e utilizamos várias tonalidades de cinza, além dos traços pretos. A etapa seguinte consistia no acabamento do comercial, filmado quadro à quadro sobre o fundo. Este comercial, se bem me lembro, incorporou mais de 1000 desenhos de figuras, desenhadas e pintadas uma à uma e levou cerca de cinco meses para sua conclusão.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Do que eu escapei!

O Daily Mail, jornal chinês, nos deu conta de que um publicitário chinês de 24 anos morreu após uma jornada fatigante de trabalho, em Pequim.

Li Yuan trabalhava na agência Ogilvy & Mather China. Segundo o jornall, o publicitário estava trabalhando até as 23 horas todos os dias, há um mês. No dia do colapso, ele teve um ataque de choro por volta das 17h (horário local), caiu e teve um ataque cardíaco fulminante. Levado ao Peking Union Medical College, ele já chegou em óbito.
 
Para quem acha que a profissão de publicitário é apenas glamurosa, com os homens sempre rodeados de mulheres lindas, circulando com carrões, roupas de grife e posando nas fotos de colunas sociais, esta historinha chinesa está colocando os pontos nos is. Eu mesmo perdi a contagem de quantos e quantos dias estiquei o trabalho até as primeiras horas da madrugada seguinte para terminar campanhas de clientes; quantos chás de cadeira tomei aguardando um cliente prepotente me atender em sua sala de mandonismo; de quantos congestionamentos enfrentei no pesado trânsito paulistano, angustiado para não chegar atrasado a uma reunião; de quantos “chapéus” financeiros sofri dos maus pagadores; de como foi difícil enfrentar a inflação desenfreada que dominava o Brasil, corrompendo nossos ganhos e fazendo o faturamento virar pó, dificultando inclusive o pagamento de salários dos funcionários; de quantas campanhas foram criadas à-toa, descobrindo que éramos apenas os bois de piranha para justificar o trabalho de outra agência já previamente escolhida (tipo cunhado do presidente da empresa).
 
Publicidade não é para os fracos. Além de criatividade, ideias, arrojo, coragem e capacidade de realizações, a profissão exige físico e mente muito fortes. Ou se sucumbe exatamente como o infeliz chinês Li Yuan.