sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Em discussão a "Nova Lei da Mídia"

O ministro das Comunicações, Franklin Martins, que trabalha desde agosto no projeto para criar um novo marco regulatório da comunicação eletrônica, disse que "vai garantir a concorrência, a competição, a inovação tecnológica, o atendimento aos direitos da sociedade à informação". A proposta pretende, entre outras coisas, incluir as mídias digitais no marco regulatório brasileiro, que data de 1962.
Profissionais da área desconfiam que pode surgir junto da proposta algum artifício que permita o controle social da mídia, o que poderia configurar censura aos meios de comunicação ou mesmo à liberdade de expressão, já que o próprio Lula criticou muito a atuação da mídia, principalmente quando estourou o escândalo com a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, quando chegou a acusar a imprensa de "inventar coisas".
O diretor-geral da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (ABERT), Luiz Roberto Antonik, concorda com a atualização do marco regulatório, principalmente por conta do surgimento de novas plataformas. "O que a Abert não concorda é com algumas propostas que, por qualquer razão, querem alterar ou influir no conteúdo jornalístico", afirmou. "A ABERT defende com muita veemência a liberdade de expressão e a defesa intransigente da independência do conteúdo pelos jornalistas", mas reconhece que ajustes precisam vir.

domingo, 10 de outubro de 2010

Minhas Histórias da Propaganda (1)

P.A., layoutman dos velhos tempos

Conheci P.A. em 1957, no meu primeiro emprego em agência de propaganda. Eu tinha 16 anos e ele já passara bem além dos cinquenta, calvo, sempre elegantemente vestido, jamais dispensava paletó e gravata. Ao vê-lo sentado atrás da prancheta, víamos um gentleman, um lord inglês.
Sua história de vida era intrigante. Apesar de calado, de poucas palavras, um dia contou-nos que na década de 1930 ganhara uma bolsa de estudos para estudar arte em Paris. Se você já assistiu a filmes que retratavam a Paris daquela belle époque, certamente entenderá a importância de se misturar e conviver com aqueles artistas europeus, inovadores, audaciosos e vanguardistas, aprendendo com exímios mestres.
Para chegar à França, P.A, seguiu de navio. Na época, a viagem provavelmente levava de15 a 20 dias, talvez até mais, caso houvesse paradas em vários portos. Segundo amigos, ao viajar, P.A. era ainda virgem, morava com a mãe. Durante a travessia no mar, algum viajante malandro e certamente gay seduziu-o sexualmente, induzindo-o às práticas sexuais passivas com homens.
Como P.A. jamais sentira anteriormente a sensação de fazer sexo com mulheres, ao voltar para o Brasil alguns anos depois, ele assumira a condição irreversível de pederasta passivo.
P.A. continuou morando com sua mãe, já idosa, no centro da cidade. Em momento nenhum se notava quaisquer atos, gestos ou sinais de que P.A. fosse gay. Na agência onde trabalhávamos, ele sempre se mostrou controlado, educado, ninguém notaria qualquer atitude que colocasse sua masculinidade em dúvida.
Com uma exceção: de tempos em tempos P.A. simplesmente faltava ao trabalho e sumia sem deixar rastos. Não avisava, não dava explicações, ficava três ou mais dias desaparecido. Entrar em contato com a mãe dele era inútil, não havia respostas.
Subitamente, lá estava ele novamente de manhã, no horário de sempre, sentado atrás de sua prancheta. Sem explicações, sem comentários, trabalhando normalmente. Mas todos nós notávamos que ele vinha ferido, machucado, com hematomas pelo corpo, por vezes com curativos no rosto, manchas e feridas que demoravam a desaparecer. Nenhum de nós se atrevia a perguntar qualquer coisa.
Somente muitos e muitos anos depois, quando eu já tinha mais idade, fiquei sabendo como é que os pederastas eram tratados naquela época. Os homens com quem os pederastas saíam exigiam dinheiro, jóias, roupas e se aproveitavam ao máximo da condição de suas vítimas. Não era raro aparecer no noticiário o assassinato de um deles, geralmente na própria residência, quando o algoz chegava a saquear todos os objetos de valor. Foi o que sucedeu com o irmão de um amigo meu, um pederasta, médico, rico, inteligente, que foi brutalmente assassinado e roubado no seu apartamento.
P.A. teve sorte, nunca se deparou com um assassino pela frente. Pelo menos até o dia em que fui trabalhar em outra agência de propaganda, pois nunca mais o vi ou ouvi falar dele. Sua discrição fez com que desaparecesse rapidamente da minha vida.