quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O adgênzia dos trres letrrrinhas


Caro leitor, não estranhe esta forma de escrever o título. Foi assim mesmo que um cliente se referiu a uma agência de propaganda, que resultou numa história meio complicada. O diretor de relojoaria cuja marca era conhecida internacionalmente ligou-me para marcar uma reunião com seu presidente, pois estavam à cata de uma agência de propaganda para divulgar seus produtos. Parece que tinham rompido com a agência anterior.

Lá fui eu para a reunião. A loja ficava no Centro de São Paulo, na Rua Barão de Itapetininga, à época uma região chique e com empresas de gabarito. Após o habitual chá de cadeira que me impingiam, fosse pelo acúmulo de compromissos das pessoas, fosse para se darem importância como "big bosses", fui chamado à sala do presidente, um suíço de forte sotaque alemão:

Perguntou-me ele: 

- A senhorrr é daquele adgenzia  dos trres letrrrinhas, ZDP, BDZ, TBZ...?

- O senhor se refere à agência DPZ? Não, aqui está o cartão da minha agência. Mas pelo visto não tenho nada a fazer aqui, já que a minha agência é outra. Obrigado, prazer em conhecê-lo, mas acho melhor me retirar! 

- Não, não, a senhorrr fica! Eu prrrrecisa de serviços urrgentes parrra meu emprrrresa.

Então, eis a surpresa: o homem era o dono não só daquela relojoaria chique, mas de três empresas e necessitava de um serviço urgente inicial para uma delas, ligada à indústria automobilística. Seria uma criação a título de teste, um anúncio para edição especial da Revista Manchete (quem se lembra dela?) com prazo apertadíssimo, como sempre acontece. Tipo para ontem antes do almoço...

Muito bem: nossa agência criou o layout, corri para apresentá-lo, foi aprovado – uma vitória – e mandamos elaborar o rotofilme (esse era o material que a Manchete usava para gravar suas chapas de impressão) que foi em seguida encaminhado para a revista, que à época estava na “Casa da Manchete”, enorme mansão construída em 1931 pelo ex-ministro Horácio Lafer na zona dos Jardins, em São Paulo e utilizada por Adolpho Bloch, o proprietário do Grupo Manchete. 

No dia que a revista foi para as bancas, corri cedinho para comprar a edição, ansioso por ver se nosso trabalho ficara a contento. E a decepção: o anúncio não fora publicado. Mil ligações para cá e para lá, descobrimos que o encarregado de enviar os materiais de São Paulo ao Rio de Janeiro, onde se localizava a gráfica da Manchete, simplesmente esquecera o rotofilme em uma das gavetas.

Não demorou para eu receber o telefonema fatal do cliente: ele ameaçou processar-me por perdas e danos, já que a publicação do anúncio naquela edição especial era de suma importância para a empresa. Passei a bola para o pessoal da Manchete e eles que assumissem seu erro.

Não fui processado. Mas perdemos o cliente, na verdade multiplicado por três, o número de suas empresas. Poderia ser a minha vez de processar a Manchete, mas não o fiz.

Ah! Antes tivesse o empresário chamado o ‘adgênzia dos trres letrrrinhas’. Roberto Duailibi (o "D' da agência, junto com os sócios Petit e Zaragosa) que se virasse com o pessoal da Manchete e o Adolpho Bloch!

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